Algo difícil de falar hoje é sobre contextualização. Os mais tradicionais
acham que é um absurdo “é o mundo entrando na igreja”. E aqueles mais saidinhos
chegam a contextualizar tanto que o Senhor Jesus fica quase imperceptível
dentro da contextualização. Como é possível viver uma vida missional,
contextualizando o evangelho sem perder a essência?
Creio que o Senhor nos mostra isso na carta a igreja de Tiatira. Ele
começa a carta exaltando as obras daquela igreja, seu amor, sua fé, seu
serviço, sua perseverança e o fato deles fazerem mais agora do que no começo,
ou seja, estavam avançando.
Mas logo depois ele diz: “contra você tenho isso: você tolera
Jezabel” (Ap 2.20). Jezabel, no passado foi a esposa de Acabe rei de
Israel. Ela não era do povo de Deus, matava os profetas do Senhor e sustentava
os profetas de Baal. Tentou matar Elias, e conspirou para matar Nabote, só
porque o rei queria as suas vinhas e ele não queria vender. Tal era sua
reputação que foi dito a seu respeito “Nunca existiu ninguém como Acabe que,
pressionado por sua mulher Jezabel, vendeu-se para fazer o que o Senhor
reprova.” (1Re 21.25)
Mas Jezabel em Tiatira era uma mulher que se dizia profetisa e que com os
seus ensinos estava levando os irmãos da igreja naquela cidade, à imoralidade
sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.
O que ela fez foi adulterar a Palavra de Deus para acomodá-la aos
costumes da sua cultura, pois ali existiam cultos a ídolos que envolviam orgias
sexuais. E muitos na igreja se deixaram levar por esses ensinos.
Os problemas que encontramos hoje são os mesmos. Precisamos conhecer e
estar inseridos na cultura para, de forma relevante, fazermos o evangelho
conhecido no meio daqueles que não conhecem ao Senhor. Mas qual é o limite da
contextualização?
Os irmãos em Tiatira extrapolaram esse limite. E muitos hoje extrapolam
esse limite. O limite é o evangelho e a glória de Deus. Aquilo que adultera o
evangelho já não pode ser contextualizado, consequentemente não glorificará a
Deus.
Não podemos deixar que o medo do extrapolar na contextualização nos
impeça de cumprir a nossa missão de levar o evangelho na nossa cultura.
Precisamos sim, com o senso de missão aguçado, contextualizar o evangelho
à nossa cultura, sem perder a essência que é a glória de Deus.
Já temos tudo o que precisamos, temos o evangelho, temos a salvação em
Cristo Jesus e temos o Espírito Santo de Deus em nós “aos demais... que não seguem a
doutrina dela... não porei outra carga sobre vocês; tão somente apeguem-se com
firmeza ao que vocês têm, até que eu venha.” (Ap 2.24-25)
Por seu Reino que suporta contextualização.
Rodrigo Rezende