3. A terceira reforma.
Certa vez li em um livro que Mahatma Gandhi, o grande líder espiritual e pacifista indiano, era amigo próximo de um pastor metodista, missionário entre os indianos. Quase todos os dias eles caminhavam juntos, e enquanto caminhavam conversavam sobre a vida e sobre as coisas do Senhor Jesus. Num certo momento da caminhada o pastor falou para Gandhi: “você crê em Jesus como eu, porque você não se junta a nossa igreja?” e Gandhi respondeu da seguinte forma ao pastor: “É verdade, eu creio em Jesus sim, mas não consigo vê-lo na igreja”. Infelizmente, essa é uma grande verdade.
Lutero redescobriu a redenção somente pela graça e mediante a fé, e com isso desencadeou a primeira reforma, uma reforma da teologia. No final do século XVII e no século XVIII, movimentos de renovação como o Pietismo redescobriram o relacionamento pessoal do individuo com Deus, essa foi a segunda reforma, uma reforma da espiritualidade. Mesmo com essas duas reformas, as formas básicas de ser igreja continuaram as mesmas. Por isso, Deus está avançando mais um passo ao mexer com as formas básicas de ser igreja. Assim está se desencadeando a terceira reforma, uma reforma da estrutura.
Quando falo de reforma não estou falando em mudanças de forma na estrutura, mas estou falando de uma total e completa revolução, uma radical redescoberta da natureza, da substância central da igreja, do DNA do Novo Testamento, do código genético sobrenatural, do evangelho que Deus introduziu na igreja. Pretender transformar uma igreja alterando suas formas exteriores é uma atitude tão pouco inteligente quanto querer produzir em si mesmo uma mudança de mentalidade trajando uma nova peça de roupa. Uma nova declaração de visão, belos alvos, formulações maravilhosas ou outras alterações cosméticas sem uma reforma radical do código genético somente levarão a uma frustração maior.
Vivemos um momento ímpar da história cristã, uma época em que igrejas cristãs crescem intensamente no mundo todo. Atualmente se formam 2000 a 3000 novas igrejas por semana (dados da Aliança Evangélica Mundial). Mesmo sendo uma época de grande alegria, fica ainda maior o grau de insatisfação da igreja como a conhecemos. Muitos aceitam Jesus, mas poucos permanecem membros comprometidos de igrejas cristãs. Numa pesquisa realiza em Amsterdã, colocou-se aos jovens a pergunta se estavam interessados em Deus. 100 por cento deles responderam que “SIM”. Depois perguntou-se se estavam interessados na igreja, e 99 por cento responderam que “NÃO”.
O que a igreja fez com as boas novas do evangelho? Como passamos de simpática ao povo para o que somos hoje? Muitos pastores dizem abertamente: “A igreja sobre a qual prego é muito diferente da igreja à qual prego”. Em Atos no capítulo dois vemos os irmãos se amando, se visitando (partindo o pão de casa em casa), cuidando uns dos outros (vendiam tudo o que tinham e distribuíam conforme a necessidade), perseverando na doutrina dos apóstolos, se mantendo unidos (apesar das diferenças). Eles caíram na simpatia do povo. Todo o povo ficava impactado com a maneira com que eles viviam. Eles não estavam preocupados em começar uma nova religião, o cristianismo, eles queriam viver como Cristo (At 2.42-47).
Um missionário contou que uma igreja na Europa com cerca de 200 membros, queria convidar não-cristãos para um culto evangelístico. Com auxilio de muita propaganda conseguiram 50 pessoas que nunca tinham estado numa igreja. “Bem poucos deles retornaram no domingo seguinte ao culto”, disse o missionário, “mas iremos atrás deles”. 50 pessoas estiveram em contato direto com a igreja de Cristo e não saíram nem um pouco impressionadas, impactadas com evangelho vivo na vida dos irmãos. Porque será que a igreja não para de chatear as pessoas e assume a responsabilidade? Será que nós não deveríamos cair de joelhos e tentar descobrir qual foi o terrível erro que cometemos para tantas pessoas entrarem em contato conosco e saírem sem ser atingidas?
Não se enganem, essa estrutura que existe hoje pode até mudar algumas formas, mas não vai mudar radicalmente, revolucionar, retornar ao DNA original. E essa mensagem, da verdadeira igreja, não pode ser suportada pela estrutura atual “Ninguém põe vinho novo em vasilha de couro velha; se o fizer, o vinho novo rebentará a vasilha, se derramará e a vasilha se estragará. Ao contrário, vinho novo deve ser posto em vasilha de couro nova.” (Lc 5.37-38). O vinho novo ainda está em fermentação e por isso se expande. A vasilha de couro velha não tem mais como se expandir e arrebenta. Jesus sabia disso, por isso, não tentou mudar o judaísmo, simplesmente mostrou como deve se viver igreja. As pessoas não querem pregar essas verdades porque vai arrebentar o formato de igreja como elas conhecem “Ninguém, depois de beber o vinho velho, prefere o novo, pois diz: o vinho velho é melhor” (Lc 5.39).
Precisamos reformar, não a estrutura atual, mas os nossos corações para aprendermos a ser a verdadeira e gloriosa noiva de Cristo.
“Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas. Mas eles disseram: Não andaremos nele.” (Jr 6.16).